Doutores questionam o resultado do estudo (Imagem por Fernando Zhiminaicela, disponível em Pixabay).
Um estudo apresentado na conferência da American Heart Association (Associação Americana do Coração) associou a prática de jejum intermitente, com ingestão alimentar limitada a 8 horas por dia, a um aumento de 91% no risco de mortalidade cardiovascular.
Os dados indicam que, ao contrário do que muitos esperariam, o jejum intermitente, embora popular para perda de peso e saúde cardíaca, pode aumentar o risco a longo prazo, mesmo em pessoas com doenças cardíacas ou câncer.
Entre pessoas com doenças cardiovasculares, os dados mostraram que comer em um intervalo de 8 a 10 horas por dia aumentou o risco de morte em 66%.
Em contraste, um período de alimentação superior a 16 horas por dia foi associado a um menor risco de morte por câncer.
Os resultados indicaram que não houve redução no risco geral de morte por qualquer causa, contradizendo a crença de que essa prática poderia prolongar a vida.
O estudo analisou dados de mais de 20.000 adultos nos EUA, coletados entre 2003 e 2018 por meio de questionários, comparando padrões alimentares com registros de mortalidade até dezembro de 2019.
Estudo desafia crenças sobre jejum intermitente
O jejum intermitente, estratégia dietética que envolve alternar períodos de jejum com fases de alimentação, tem ganhado adeptos devido aos seus potenciais benefícios para a saúde.
Essa prática, que pode variar de jejuns diários de 16 a 24 horas a jejuns de 24 horas realizados algumas vezes por semana, é geralmente associada a melhorias na função imunológica, aumento da queima de gordura, prevenção do envelhecimento precoce, e até melhoria da saúde mental.
Entre as principais formas de jejum intermitente estão o método 16/8, que restringe a ingestão de alimentos a uma janela de 8 horas, e o jejum de 24 horas, praticado algumas vezes na semana.
Assim, o estudo desafia crenças sobre jejum intermitente ao apresentar resultados que contradizem as expectativas de benefícios à saúde associados a essa prática.
É importante mencionar que o jejum intermitente não é adequado para todos e, de modo geral, deve ser evitado por pessoas com certas condições de saúde, crianças, gestantes e pessoas com histórico de transtornos alimentares, sendo essencial a orientação de um profissional de saúde antes de iniciá-lo, como recomenda o Dr. Dráuzio Varella em vídeo no YouTube.
Reconhecendo seus benefícios e destacando a redução calórica, Varella alerta para a necessidade de adaptar o jejum intermitente às condições e objetivos de saúde individuais, sublinhando as dificuldades de adesão a longo prazo e a importância de orientação profissional para evitar riscos de seguir conselhos genéricos da internet sem base científica.
Doutores questionam o método
O Dr. Layne Norton critica a precisão dos questionários do estudo e sugere que muitos participantes podem não ter praticado jejum intermitente conscientemente, dado que essa prática se popularizou apenas após 2010.
Norton debate que outros fatores, como o aumento do Índice de Massa Corporal (IMC) nos indivíduos com restrição de janela alimentar, poderiam explicar os resultados, em vez do jejum intermitente em si.
Ele também menciona uma investigação científica que mostra melhorias em marcadores de risco de doença cardiovascular entre aqueles que seguem o jejum intermitente com restrição calórica, sugerindo que a prática não é intrinsecamente perigosa.
Norton enfatiza a importância de uma abordagem individualizada na dieta, ressaltando que mais pesquisas detalhadas e revisadas por pares são necessárias para compreender completamente os impactos do jejum intermitente.
O Dr. Tommy Wood, professor assistente da Universidade de Washington também critica a metodologia e as conclusões do estudo.
Em conversa com o Thomas deLauer no YouTube, ele destacou que o estudo não foi revisado por pares, sendo apenas um resumo de conferência, o que compromete a análise dos métodos e resultados.
Segundo ele, dados dietéticos autorrelatados frequentemente são imprecisos. Apenas 414 pessoas, menos de 1% da amostra, estavam no grupo de menos de 8 horas, tornando a comparação estatisticamente fraca.
Ele também comentou que esse grupo tinha IMC mais alto e maior probabilidade de fumar, indicando fatores de saúde preexistentes.
A média de idade inicial era 41 anos, com mais de 20% de mortalidade, dados que também sugerem saúde já comprometida no início do estudo.
Esses especialistas fornecem uma visão crítica sobre as falhas metodológicas do estudo e destacam a necessidade de considerar uma variedade de fatores ao avaliar o impacto do jejum intermitente na saúde cardiovascular. Eles defendem uma abordagem mais nuançada e baseada em evidências sólidas, em contraste com conclusões precipitadas derivadas de dados potencialmente imprecisos.
Dúvidas indicam necessidade de cautela
A prática do jejum intermitente, uma estratégia dietética que ganhou popularidade nos últimos anos, oferece um exemplo fascinante da complexa interação entre ciência, saúde e a mídia. O estudo recente, sugerindo um risco de 91% maior de morte cardiovascular associado a esta prática, indica a importância crítica da análise científica rigorosa e da consulta a profissionais de saúde qualificados.
Antes de adotar qualquer método dietético, é essencial avaliar as evidências científicas disponíveis, reconhecendo, ao mesmo tempo, as limitações e os potenciais vieses dessas pesquisas. A ciência da nutrição é notoriamente complexa e multifacetada, tornando vital a consulta a especialistas que possam interpretar as descobertas mais recentes no contexto da saúde individual.
Além disso, é fundamental exercer um saudável ceticismo tanto em relação a tendências dietéticas quanto às reportagens sensacionalistas que frequentemente surgem na mídia. Essas reportagens podem, por vezes, distorcer as descobertas científicas ou omitir nuances importantes, promovendo medo ou confusão desnecessários entre o público.
O jejum intermitente, como qualquer abordagem dietética, pode oferecer benefícios para alguns, enquanto para outros pode não ser aconselhável. A individualidade bioquímica e as circunstâncias de vida de cada pessoa desempenham um papel essencial na determinação da dieta mais adequada. Por isso, a consulta com nutricionistas, médicos e outros profissionais de saúde é indispensável antes de realizar mudanças significativas na alimentação.
Por fim, o equilíbrio e a moderação continuam sendo princípios orientadores essenciais na busca por uma alimentação saudável e um estilo de vida equilibrado. Em um mundo inundado de informações e opiniões divergentes, a educação continuada, o pensamento crítico e a colaboração com profissionais de confiança são fundamentais para navegar nas complexidades da nutrição e da saúde de maneira informada e eficaz.
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